Tuesday, November 4, 2008

Danuza Leão: A vitória de Gabeira

Achei esse texto no blog Quando Tudo é Importante

NA NOITE DO domingo da eleição, o Rio de Janeiro, que é uma cidade tão festeira, estava silenciosa e deserta. Poucos carros na rua, buzinas zero, e nos bares e restaurantes vazios, o clima era de um quase luto. Ok, estou falando da zona sul, onde Gabeira era o favorito, mas na zona norte não foi muito diferente -a não ser no comitê eleitoral de Eduardo Paes, é claro.
Mas a derrota de Gabeira teve sabor de vitória. Usando o que disse o grande Cony, Gabeira como prefeito seria um desperdício. Ele merece e tem capacidade para muito mais, pois sua visão do mundo é completa, não apenas municipal, a visão deste mundo ao qual pertencemos e pelo qual também somos responsáveis.
Talvez, depois de 16 anos de Cesar Maia, o Rio não merecesse ainda ter um prefeito como Gabeira.
Como as coisas, sobretudo em política, demoram a mudar, Eduardo Paes, que é a continuação perfeita de Cesar Maia -de quem, aliás, é cria-, foi eleito não por ele mesmo, mas pela máquina -e uma máquina pesada. E bem ajudado pelo feriadão de segunda-feira, quando alguns menos politizados aproveitaram para fazer um longo fim de semana, no lugar de votar. Mas, segundo "O Globo" da última terça-feira, Gabeira tem sido aclamado nas ruas e até na feira como se tivesse sido o candidato eleito.
Uma amiga me contou que para entrar no restaurante onde ele almoçava foi um tumulto, e que as pessoas se debruçavam nas janelas gritando seu nome.
Tendo oferecido sua vitória a Sergio Cabral e a Lula, Paes ficou refém dos dois -a não ser que daqui a algum tempo mude novamente de partido (seria o nono). Mas não só deles: também do vereador Babu, entre outros. Mas os 49,17% que não votaram nele estão de olho.
Eu adoro a minha cidade; mas Sergio Cabral com seu risinho simpático e "ishperto" de carioca que gosta de samba, futebol e praia, nunca me enganou. E o novo prefeito mauricinho tampouco. Torço para que a cidade melhore, mas só vejo Cabral viajando, e com a ambição de ser vice-presidente, e em Paes, a de ser governador.
Mas vamos supor, apenas supor, que Eduardo Paes tenha as condições para ser um prefeito maravilhoso; mas tive a visão clara do que vai ser essa prefeitura quando vi pela televisão a comemoração. No lugar de olhar para Paes e Cabral, fiquei observando os correligionários que os cercavam, e vi ali o que há de pior na política brasileira; uma gentalha que há anos consegue continuar no poder, e me pergunto como. Só de ver essa gente dá para saber que não vai dar certo, e que os três unidos -Lula, Cabral e Paes- vão fazer o que bem quiserem com o nosso Estado, com a nossa cidade, com os nossos impostos.
Nosso consolo é saber que Gabeira, sem dinheiro, sem partidos o apoiando, sem a famosa máquina administrativa, sem panfletos, sem camisetas, com um discurso limpo, claro, ético, tocou o coração dos cariocas, que já estão cansados de tanta politicalha e tanta falta de vergonha na nossa cidade e no nosso Estado.
Meu próximo voto será novamente para Gabeira -seja lá para o que for.

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